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Foto do escritorPedro Gouvêa

Depressão e Ansiedade: algumas considerações


Apesar do grande número de informações disponíveis hoje sobre o que vem a ser depressão e ansiedade, especialmente devido ao acesso extremamente fácil e imediato a internet, ainda há muita confusão e desconhecimento sobre o assunto. Estas informações são, muitas vezes, distorcidas e equivocadas, levando a pessoa a não compreender com precisão o que sente e não tomar atitudes adequadas para lidar com tais sentimentos. Vamos a uma breve definição destes quadros.

DEPRESSÃO

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão é, atualmente, o transtorno mais incapacitante do mundo, afetando mais de 300 milhões de pessoas. Apenas por este dado, o assunto já é digno de atenção imediata por parte dos profissionais de saúde mental e motivo de bastante preocupação para a sociedade em geral. De acordo com uma visão tradicional, a depressão constitui uma doença de ordem mental/emocional caracterizada por tristeza excessiva por um longo período de tempo, sentimentos de vazio, falta de esperança, pessimismo, falta de prazer e motivação para realizar atividades antes apreciadas e, em casos mais graves, pensamentos e tentativas de suicídio. No entanto, é preciso entender, inicialmente, que a depressão não constitui uma doença no sentido médico, como um câncer, por exemplo. Neste sentido, o indivíduo que apresenta as características depressivas não é portador de uma doença que deve ser tratada exclusivamente por meio de um tratamento médico. O fenômeno da depressão, embora inclua desequilíbrios de natureza bioquímica, alterações e pré-disposições genéticas, é composto também por comportamentos aprendidos através das experiências de vida da pessoa e mantidos por condições atuais de vida. Esse aspecto aprendido da depressão é fundamental de se entender, pois é aquilo que pode ser mudado, uma vez que ainda não temos possibilidade de alterar a carga genética de uma pessoa. Sendo uma condição em grande parte aprendida, a depressão se manifesta de forma única em cada pessoa, e deve ser tratada também por meio de processos terapêuticos comportamentais e não apenas médicos.

Assim, comportamentos depressivos típicos, como o isolamento social, por exemplo, podem ser resultado de uma aprendizagem de que "não vale a pena se relacionar com as pessoas, pois elas só irão me decepcionar". Como se da essa aprendizagem? Provavelmente, esta pessoa vivenciou alguns (ou muitos) relacionamentos em que foi, de alguma maneira, decepcionada, magoada, criticada excessivamente, rejeitada e assim por diante. Talvez a vivência de um único relacionamento "traumático" possa ser suficiente para o aprendizado de que "as pessoas não valem a pena". Por exemplo, no caso de uma pessoa que foi traída e abandonada repentinamente pelo parceiro. A ideia aqui, é chamar atenção para o fato de que todas as características descritas como depressão (tristeza, vazio, solidão, pensamentos negativos, etc.) são, em sua maioria, comportamentos aprendidos em função de experiências negativas passadas e mantidas pelo ambiente atual. O próprio comportamento do deprimido, por exemplo, de recusar um convite para um passeio e ficar em casa, mantém o estado depressivo, uma vez que ele não entra em contato com outras experiências que poderiam mudar sua forma de sentir. Neste sentido, há muitas coisas que podem ser feitas para sair da depressão.

ANSIEDADE

Tradicionalmente, a ansiedade é definida como a antecipação de uma ameaça futura. Envolve estados corporais desagradáveis, como tremores, coração acelerado, sudorese, dores de cabeça, sensação de falta de ar, tensão muscular, dentre outros. Estas reações corporais aparecem tipicamente diante de situações que envolvem ameaça difusa, imprevisibilidade e incerteza. Diferente do medo, que habitualmente ocorre diante de uma ameaça concreta, "real" e mais facilmente identificável, a ansiedade tende a ocorrer em função de situações não muito claras e por motivos diversos. Antes de prosseguir, é importante deixar claro que as reações de ansiedade são reações naturais da espécie humana diante das condições citadas e que foram selecionadas ao longo do processo evolutivo para proteger o indivíduo. Assim, é esperado e saudável apresentar estas reações diante de certas situações. A ansiedade começa a se tornar um problema quando ela é exagerada (as reações são muito intensas), persistentes (as reações são muito prolongadas) e atrapalham a pessoa na realização de atividades diárias (não produzir bem no trabalho, por exemplo). Neste caso, temos os chamados "transtornos de ansiedade". Existem diversos transtornos de ansiedade e não é objetivo aqui abordar cada um deles. O mesmo raciocínio para entender a depressão é válido para entender a ansiedade e os seus transtornos. Ou seja, embora a ansiedade também possa apresentar alterações bioquímicas e pré-disposições genéticas, grande parte das suas características são aprendidas e ela não constitui uma doença no sentido médico. Assim, podemos dizer que, ao entrar em contato com alguma situação que sinaliza que algo ruim ou ambíguo irá acontecer, a pessoa sentirá ansiedade. Isso é natural e esperado. Não apenas as sensações corporais da ansiedade serão evocadas, mas a tendência da pessoa evitar ou fugir da situação será bastante aumentada. Fugir ou evitar as situações que provocam ansiedade mantém o problema, na maioria das vezes. Isso porque a pessoa, apesar de obter alívio temporário da ansiedade desagradável, não desenvolve formas construtivas de lidar com ela, pois as condições de aprendizagem necessárias para o desenvolvimento destas habilidades não são vivenciadas pela pessoa.

Um exemplo clássico para ilustrar pode ser o seguinte: uma pessoa tímida, socialmente ansiosa, precisa apresentar um trabalho em público. A situação de ter que apresentar um trabalho em público irá provocar todas as reações corporais desagradáveis da ansiedade, pensamentos negativos sobre si mesmo (por exemplo, "as pessoas vão perceber meu nervosismo" ou "vou gaguejar") e aumentar a tendência da pessoa em evitar esta situação. Evitando a situação, a pessoa obtém alívio temporário, mas mantém o problema, como foi destacado. Da próxima vez que lhe for exigido a apresentação de um trabalho em público, a ansiedade provavelmente será maior. Da mesma forma que na depressão, iremos encontrar as origens dos comportamentos ansiosos nas experiências de vida da pessoa. O importante aqui é ressaltar o caráter aprendido da ansiedade e a possibilidade de aprender a lidar com ela de forma saudável, de modo que não atrapalhe a vida da pessoa nem lhe gere sofrimento desnecessário.

CONCLUSÃO

Tanto a ansiedade quanto a depressão são fenômenos complexos que merecem e devem ser investigados de maneira particular em cada pessoa, pois cada um apresenta uma experiência única de depressão e/ou ansiedade. Tipicamente, depressão e ansiedade andam de "mãos dadas", ou seja, as pessoas com problemas depressivos também apresentam problemas de ansiedade e vice versa. Apesar disso, ambas apresentam origens e características diferentes. A grosso modo, enquanto que a depressão está relacionada mais fortemente a experiências de perda (passadas e/ou atuais), a ansiedade está mais relacionada a experiências de incerteza, imprevisibilidade e o caráter ameaçador que estas situações apresentam. Sendo características comportamentais resultantes de aprendizagem e não doenças, tanto a depressão quanto a ansiedade podem ser submetidas a novos processos de aprendizagem que levem a pessoa a superar estas dificuldades.

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