Uma metáfora é sempre um recurso interessante para que possamos entender melhor algo difícil, especialmente quando se trata da nossa realidade psicológica. Muitas vezes, ela nos faz perceber aspectos mais profundos sobre assuntos difíceis de compreender através da comparação de palavras com sentido semelhante.
O que vem a sua cabeça quando ouve a palavra "nó"? Provavelmente, uma coisa complicada de desfazer, como o nó de um cadarço de tênis muito bem amarrado. Coisas complicadas, geralmente, estão associadas a coisas desagradáveis, indesejáveis e que queremos nos livrar, como o sofrimento.
A psicologia humana também é difícil de compreender, por envolver inúmeras situações que a determinam, tanto passadas quanto atuais. Não parece exagerado afirmar que nunca saberemos todos os motivos que levam a uma pessoa a ser como é e a agir como age. Mesmo uma ação simples, como tomar um sorvete, por exemplo, não pode ser explicada por um único motivo, ao dizer: "tomei o sorvete porque está calor!". Inúmeros outros motivos podem ser levantados, como aliviar uma frustração, por exemplo. Então, aqui, já temos duas razões para o simples comportamento de tomar um sorvete: a temperatura e a frustração (que é aliviada quando a pessoa toma o sorvete).
Dito isso, é fácil deduzir que, quanto mais complexo for o comportamento, mais difícil será de explicá-lo e de modificá-lo. O que dizer de uma depressão, por exemplo? Ou de um comportamento de dependência de álcool? Ou de uma timidez excessiva ao interagir com alguém? As pessoas vivenciam tantas experiências e situações que, combinadas, formam quem ela é. Somos um conjunto extremamente complexo de experiências, boas e ruins.
Dentro desse conjunto de experiências, uma pessoa pode ter passado por experiências tão negativas que não consegue mais se comportar como gostaria e alcançar seus objetivos. Os exemplos são inúmeros. Pessoas que sofreram um assalto e sofrem de ansiedade e evitam sair de casa, pessoas que foram agredidas na infância e não gostam de si mesmas, pessoas que foram traídas em um relacionamento e não conseguem mais confiar em ninguém, pessoas que perderam alguém importante e não conseguem mais ter prazer com a vida, etc.
Note bem! Todos estes exemplos podem ser analisados por meio de uma equação simples: experiência ruim > dificuldade comportamental. Daí, podemos pensar que um somatório de experiências ruins (ou talvez apenas uma), pode formar um "nó" psicológico (comportamentos resultantes das experiências ruins) da mesma maneira que um somatório de voltas em um cadarço de tênis pode formar um nó difícil de desfazer. Dentro da equação, as voltas no cadarço seriam as experiências e o nó, a dificuldade comportamental acompanhada de sofrimento.
Se um nó de cadarço de tênis é difícil de desfazer, nós psicológicos tendem a ser muito mais difíceis. Como desfazer um comportamento de "desconfiar de todo mundo"? ", ansiedade e evitação de sair de casa"?, "dependência de álcool"?, "timidez excessiva?"
Obviamente, o objetivo desse artigo não é apresentar fórmulas mágicas e milagrosas. Aliás, elas sequer existem. No entanto, é possível desfazer estes nós psicológicos com o tratamento adequado. Esse é o papel do psicólogo. Descobrir, junto com o cliente, que experiências se combinaram para formar esse nó e como desfazer as voltas do cadarço (veja, não desfazer a experiência em si, pois isso é impossível, está no passado) para, finalmente, desfazer o nó.
De novo, o nó é a dificuldade comportamental, o sofrimento emocional. Ele é o resultado e não a causa. Cuidado para não colocar nós como causa das suas dificuldades. Além disso, os nós não são misteriosos nem de outro mundo, foram formados neste mundo e podem ser desfeitos neste mundo, por mais complexos e sofridos que possam ser.
Para finalizar, uma outra metáfora que escutei esses dias sobre o papel do terapeuta: fazer o cliente enxergar o que ele não enxerga. Um cego que tem dificuldades em se locomover, esbarra nas coisas e se machuca. Se pudesse enxergar coisas que ele não pode sozinho, caminharia com mais segurança, desviaria dos obstáculos sem tanto sofrimento e saberia para onde está indo e qual o melhor caminho. Metaforicamente, qualquer terapia é um espaço para desfazer "nós psicológicos".