Muitas pessoas têm dificuldade em pedir ajuda para qualquer coisa, mas vou me concentrar aqui em "pedir ajuda" no âmbito psicológico. Ou seja, solicitar algum tipo de ajuda (profissional ou não) para questões que envolvem dificuldades emocionais.
Vamos explorar melhor o significado dos termos, as causas e consequências comuns a esta dificuldade. Em primeiro lugar, a palavra dificuldade refere-se a um déficit de comportamento que ocorre em certas ocasiões. Por exemplo, dificuldade de estudar significa baixa frequência do comportamento de estudo, dificuldade de se relacionar significa baixa frequência de comportamento interpessoal, e assim por diante.
Quando falamos em dificuldade emocional, normalmente estamos nos referindo a algum tipo de sofrimento, sem dúvida. Porém, qual déficit comportamental está envolvido nessa dificuldade? Qual o conjunto de comportamentos que, se aumentar de frequência, pode solucionar a dificuldade emocional? Podemos concluir, então, que uma dificuldade emocional implica em certos comportamentos que são emitidos com baixa frequência (poderíamos falar em excessos também).
Seguindo esse raciocínio, a dificuldade em pedir ajuda significa baixa frequência desse comportamento. Por que isso é tão comum quando o assunto é pedir ajuda para questões emocionais e psicológicas?
Vamos ver algumas possibilidades:
1 - Comportamentos emitidos com baixa frequência, via de regra, não foram reforçados ou foram punidos;
2 - Autoconhecimento falho para identificar dificuldades que são de natureza emocional;
3 - Falta de habilidade para comunicar aos outros dificuldades dessa natureza;
4 - Contexto social punitivo em relação a pessoas que relatam dificuldades emocionais.
O item 1 sugere que, se o indivíduo tem dificuldade em pedir ajuda emocional, esse comportamento não foi reforçado ou foi punido. Vamos ilustrar o caso com um sujeito que terminou um relacionamento importante e vem sentindo muita tristeza, vazio, se isola, irrita-se com muita facilidade, etc. Se esse sujeito não pede ajuda, "sofre em silêncio", podemos supor que, quando ele pediu ajuda no passado para problemas semelhantes, não obteve esta ajuda (extinção do comportamento), ou foi criticado/desqualificado/ridicularizado (punição do comportamento). Logo, pedir ajuda para questões rotuladas como emocionais é um comportamento pouco provável de ocorrer.
O item 2 sugere que o indivíduo não consegue discriminar que o seu problema é de ordem emocional. No mesmo exemplo, o sujeito sente o sofrimento - efeitos do término - e lança mão de comportamentos de fuga/esquiva como, por exemplo, se isolar ou abusar de substâncias. Porém, ele não compreende nem diz que isso é um problema de ordem emocional, alegando ser de outra natureza, como um problema físico, genético ou espiritual.
O item 3 supõe que o indivíduo até pode ter consciência da natureza dos seus problemas, mas não possui habilidades para expressá-los de modo adequado aos outros. Por exemplo, ele não sabe como falar ou quais palavras usar para compartilhar com alguém que está muito triste e que gostaria de ser ouvido, não ser julgado e criar um clima favorável para essa interação. Ou pode ser agressivo, cobrando uma ajuda excessiva sem levar em consideração o lado do outro.
O item 4, bastante relevante, é um componente social que envolve o preconceito e a estigmatização de pessoas que apresentam dificuldades emocionais. Nesse sentido, expor estas dificuldades ainda implica em julgamentos pejorativos como "ser fraco", "ser imaturo", "não ter força de vontade", "ser inferior", "ser fresco", "ser estranho" e inúmeras outras qualificações negativas associadas ao tema.
Se o sujeito tiver um comportamento "orgulhoso", por assim dizer, será ainda mais difícil ele pedir ajuda nesse sentido, pois isso provavelmente irá afetar de forma negativa sua imagem. Nossa sociedade cobra muito o "ter que ser forte", "ser corajoso", "ser resiliente", "ser competente", dificultando o comportamento de expor problemas emocionais. No nosso exemplo, o sujeito expor suas angústias sobre o término para um amigo, por exemplo, pode fazer com ele fique "mal visto", podendo até gerar um afastamento. Então, é melhor fingir que está bem e "se fazer de forte".
A consequência mais problemática disso tudo é a manutenção do sofrimento e a não resolução dos problemas. Uma vez que o sujeito não pede ajuda, o problema não é exposto e, portanto, não é resolvido. Talvez seja ainda mais complicado pedir ajuda a um profissional da psicologia, porque isso significaria assumir que se tem um problema dessa natureza. A desinformação nessa área ainda é enorme.
A reflexão que eu gostaria de deixar é que os problemas rotulados como psicológicos ou emocionais NÃO são anormalidades ou aberrações que devem ser escondidos. Da mesma forma que uma pessoa pede ajuda para trocar uma peça do carro ou fazer exercícios em uma academia (eventos tidos como naturais), pedir ajuda na esfera emocional também deveria ser encarado como algo natural, ou seja, fruto das condições que a natureza impõe ao ser humano enquanto ser biológico e social.
A construção social de que problemas de ordem "psicológica", "emocional", "mental" ou seja lá que nome você queira dar são essencialmente "errados", "anormais", etc., precisa ser urgentemente questionada. A retirada do caráter punitivo desta construção, sem dúvida, daria mais liberdade às pessoas pedirem ajuda emocional (como algo natural) e aumentaria a frequência desse comportamento. Aumentando a frequência desse comportamento, quantos problemas humanos (talvez ainda desconhecidos, nas sombras do silêncio) não poderiam ser investigados e solucionados? A experiência de "sofrer em silêncio", em geral, não é útil nem para o sofredor nem para aquele que poderia oferecer ajuda.