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  • Foto do escritorPedro Gouvêa

A terapia como o espaço da "NÃO EVITAÇÃO"

A psicoterapia costuma ser caracterizada de várias maneiras: como um espaço de acolhimento, espaço de reflexão, de autoconhecimento, de mudança e até mesmo como um espaço "sagrado".

Durante um atendimento que fiz recentemente, caracterizei, de forma espontânea, a terapia como o espaço da "não evitação". Expressei isso para o cliente em questão em função do seu forte comportamento evitativo em relação às próprias emoções.

Refletindo melhor sobre essa ideia tempos depois, cheguei a conclusão de que essa caracterização parece bastante apropriada. E por que?

Basicamente, pelo fato de que a grande maioria dos clientes (senão todos) vem para a terapia com amplos padrões de evitação em relação às mais diversas situações de vida. Aliás, segundo a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), existe um padrão comum a todas as psicopatologias: a esquiva experiencial. Esse padrão se refere a tentativa de evitar quaisquer experiências internas desagradáveis.

Pois bem, o cliente pode evitar pensamentos e sentimentos desagradáveis, evitar solucionar algum problema prático, evitar se relacionar afetivamente, evitar o contato social de forma geral, evitar falar sobre certos assuntos, evitar agir de determinada forma, evitar a intimidade, etc., etc., etc.

Então reparem que, via de regra, os clientes que procuram terapia provavelmente irão evitar algum tipo de problema ou situação em suas vidas, mesmo que de forma discreta ou quase imperceptível. Cabe ao terapeuta detectar esses comportamentos evitativos e qual o estímulo supostamente ameaçador que é evitado.

Bem, sabemos que a evitação ocorre porque ela impede que a pessoa entre em contato com um estímulo aversivo. Por exemplo, uma pessoa pode evitar apresentar trabalhos em público porque isso evita que ela seja exposta a críticas ou avaliações negativas.

Porém, a evitação ou o comportamento evitativo não surge do nada, ele tem uma história. Ou seja, a pessoa apresenta o comportamento evitativo porque o comportamento oposto (de enfrentamento ou exposição) provavelmente foi punido no passado. No nosso exemplo anterior, é provável que a pessoa já tenha passado por alguma situação de apresentar trabalhos e tenha sido, de fato, criticada, ridicularizada ou algo nesse sentido.

Diferente de qualquer outro contexto da vida do cliente, a psicoterapia é (ou pelo menos deveria ser) um espaço livre de punição. Ou seja, o terapeuta não emite qualquer juízo de valor, crítica ou julgamento moral sobre QUALQUER comportamento do cliente. Ora, se não há qualquer risco de punição na terapia, não há razão para o cliente evitar falar ou agir da maneira que quiser.

É claro que esse processo de construção de uma relação de confiança em que o cliente faz o menor número de evitações possíveis leva tempo. Mas isso deve ficar muito claro para o cliente já na primeira sessão. Só assim ele se sentirá à vontade para compartilhar seus assuntos mais íntimos e, gradativamente, abandonar cada vez mais suas evitações, pelo menos na terapia. Em outras palavras, deixar de lado suas "defesas" e ir para a terapia "desarmado".

Concluindo, para que uma terapia seja a mais eficaz possível, é fundamental que ela tenha essa característica de ser um espaço de "não evitação" (e sim de exposição verdadeira) por parte do cliente (e do terapeuta também). Já vivemos em um mundo bastante punitivo em que precisamos lançar mão das mais diversas formas de evitação para não mostrarmos quem realmente somos. A psicoterapia DEVE se configurar como um espaço diferente, especial, onde as evitações não são necessárias...

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