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  • Foto do escritorPedro Gouvêa

Timidez passa com o tempo?


Já me deparei com esta pergunta algumas vezes, tanto no consultório quanto nas redes sociais. Creio ser uma pergunta relevante e digna de consideração, uma vez que boa parte do senso comum vê a timidez como uma espécie de "fraqueza de personalidade" e muitos tímidos acabam assumindo esta ideia para si, não buscam tratamento e simplesmente esperam a passagem do tempo imaginando que podem deixar de ser tímido de forma "mágica".

A primeira coisa a se considerar para responder essa questão é que a timidez tem duas origens na vida de qualquer pessoa: genética e aprendizagem através de experiências de vida.

A origem genética se refere a um traço de comportamento herdado, onde a pessoa já nasce com um temperamento mais inibido, mais temeroso e mais sensível a presença de desconhecidos. Nestes casos, é muito comum que algum dos pais ou algum parente próximo também seja tímido e retraído socialmente.

A origem ambiental (aprendida) é a mais importante. Isso porque a maioria do nosso comportamento (inclusive a timidez) é aprendida. Nesse sentido, a maioria dos tímidos aprendeu a ser tímido através de suas experiências de vida. Exemplos comuns de experiências de vida que "ensinam" a timidez são: pais super protetores ou críticos demais, bullying na infância ou na adolescência, experiências de rejeição amorosa, rejeição pelos pares, etc.

Então veja, se uma pessoa tem a "genética da timidez" e passou por experiências de aprendizagem que reforçaram seu comportamento tímido, ela dificilmente deixará de ser tímida com a simples passagem do tempo. Ao contrário, o quadro tende a piorar e pode resultar em um transtorno de ansiedade social.

Se a pessoa não tem uma genética que favorece a timidez, mas passou por experiências sociais negativas que resultaram em um comportamento tímido, também é pouco provável que a timidez desapareça com a simples passagem do tempo.

Um terceiro caso, é uma pessoa que tem a "genética da timidez" mas não passou por experiências negativas que favorecem a expressão da timidez. Digamos que ela recebeu uma dose adequada de afeto pelos pais, estabeleceu bons vínculos de amizade na escola e nunca sofreu humilhações sociais importantes.

Neste caso, a pessoa pode se apresentar tímida, quieta e retraída durante um período da vida e aprender, com o passar do tempo, que os outros não representam uma ameaça digna de tanta ansiedade e agir de modo mais extrovertido. Aqui, poderíamos dizer, em uma linguagem coloquial, que a timidez "passou" ou, para ser mais preciso, que a pessoa aprendeu a lidar com sua timidez.

Em todo caso, é bastante improvável que pessoas com alto grau de timidez deixem de ser tímidas com a simples passagem do tempo. A passagem do tempo não muda a genética e não proporciona, necessariamente, experiências que ensinem um comportamento oposto à timidez (como a extroversão, por exemplo).

Por fim, ainda que não possamos mudar a genética da timidez, é possível aprender a deixar de ser tímido através de um trabalho terapêutico. Como eu mencionei, se a maioria dos nossos comportamentos são aprendidos, é possível aprender novos comportamentos através de um PROCESSO DE APRENDIZAGEM CONTROLADO: A psicoterapia. A simples passagem do tempo não tem previsão e controle sobre o que é aprendido, de modo que não é um caminho confiável para se mudar um comportamento na direção desejada.

O passar do tempo nem sempre nos leva a conquista de nossos objetivos. Portanto, seja ativo na busca de experiência que, de fato, o levarão a superar sua timidez.

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