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  • Foto do escritorPedro Gouvêa

A abordagem dimensional da ansiedade social


Diversos transtornos psicológicos tem sido interpretados atualmente como sendo parte de um continuum ou espectro. Um continuum ou espectro pode ser descrito por um conjunto de fenômenos psicológicos que apresentam características semelhantes, que variam pouco em sua forma. Em outras palavras, são padrões de comportamento parecidos que variam apenas em alguma dimensões.

Essa forma de interpretar os transtornos mentais vem substituindo uma interpretação mais tradicional, que sustenta que tais transtornos são entidades separadas e independentes umas das outras, mesmo que tenham características semelhantes.

Você já deve ter ouvido falar, por exemplo, na expressão "transtornos do espectro autista". O autismo talvez tenha sido um dos primeiros transtornos a ser interpretado dessa forma e engloba uma categoria muito mais ampla: a dos transtornos do desenvolvimento. Outros transtornos também começaram a ser referidos desta forma, como os transtornos do espectro do TOC e da esquizofrenia (transtornos do espectro psicótico).

Notem bem. Embora haja algumas diferenças conceituais sutis, falarmos que um transtorno faz parte de um espectro ou de um continuum é, basicamente, a mesma coisa. Da mesma forma, podemos falar que um transtorno faz parte de uma dimensão que possui as mesmas características sintomáticas, não sendo necessária a criação de outros nomes para classificá-lo.

A ansiedade social vem sendo, cada vez mais, interpretada dessa forma. Aliás, essa forma de interpretar uma psicopatologia parece se encaixar muito bem nos fenômenos que envolvem a ansiedade social.

Isso porque as dificuldades que as pessoas com ansiedade social apresentam são muito semelhantes e parecem variar apenas em algumas dimensões, como frequência, intensidade e duração dos sintomas, nível de sofrimento geral, nível de evitação social, etc.

No entanto, tradicionalmente, temos algumas expressões que classificam os fenômenos da ansiedade social com nomes diferentes, como timidez, transtorno de ansiedade social (fobia social) e transtorno de personalidade evitativa.

Esses padrões de comportamento estão começando a ser considerados na literatura não mais como entidades separadas, e sim como experiências que fazem parte de um continuum, espectro ou de uma dimensão.

Nesse sentido, teríamos os chamados "transtornos do espectro da ansiedade social". Os sintomas de ansiedade social variam em termos de sofrimento e prejuízos causados na vida do indivíduo, porém, apresentam características manifestas muito semelhantes que não justificariam a criação de outros rótulos diagnósticos.

Então, por exemplo, nós temos a ansiedade social como uma experiência comum do ser humano que se caracteriza por um nervosismo e preocupação em ser avaliado em uma situação social em que a pessoa se sinta exposta.

Se estes comportamentos aparecem de forma um pouco mais frequente e acentuada, poderíamos chamar o fenômeno de timidez. Se aparecem de forma muito frequente e acentuada, gerando muito sofrimento e prejuízo pessoal, podemos chamar de transtorno de ansiedade social (ou fobia social). Se ocorrem de forma ainda mais extrema, podemos chamar de transtorno de personalidade evitativa.

Portanto, teríamos padrões de comportamento semelhantes variando nos termos citados acima e, principalmente, em sua gravidade. Resumindo: temos a ansiedade social como uma experiência "normal", a timidez como uma forma mais intensa do padrão, a fobia social como uma forma "patológica" do padrão e o transtorno de personalidade evitativa como a forma mais grave do padrão.

Essa é uma forma de interpretar a ansiedade social e os seus transtornos bastante coerente com o que se vê na prática clínica e vem sendo cada vez mais adotada por terapeutas e pesquisadores. Mas, certamente, precisamos de mais estudos sistemáticos para investigar e consolidar essa abordagem.



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