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  • Foto do escritorPedro Gouvêa

Tímidos poderiam ser considerados como "minoria"?

O conceito de minoria tem sido bastante discutido nos tempos atuais no que se refere às pautas identitárias. Embora não seja um tema com o qual eu lide de forma muito aprofundada, penso que a timidez pode ser olhada a partir destas pautas.

As minorias identitárias correspondem a grupos sociais que são historicamente alvo de preconceito e discriminação por outros grupos que representam o status dominante em uma determinada sociedade. Costumamos dizer que são grupos "oprimidos" socialmente.

Como exemplos comuns de minorias, podemos citar os negros e pessoas LGBT. Notem que a ideia de minoria aqui não significa uma minoria numérica, e sim menores oportunidades e possibilidades de ascensão social em função da exclusão destes grupos de espaços importantes da sociedade.

A questão da identidade é fundamental neste contexto. Tais grupos costumam, com frequência, se unir em função de uma característica física ou comportamental comum (o que marcaria as suas identidades) para lutar por seus direitos e reivindicar a igualdade social em relação aos outros. Por isso, "minorias identitárias".

Bem, a timidez parece se encaixar nesse conceito em diversos aspectos, embora eu desconheça trabalhos ou estudos que tenham abordado o tema desta perspectiva. Em que aspectos a timidez pode se encaixar nesse conceito?

Em primeiro lugar, a timidez também constitui uma característica de personalidade ou de comportamento. É uma forma de ser/agir que marca a identidade de uma pessoa. Da mesma forma que uma pessoa pode se descrever como "negra" ou "homossexual", ela pode se descrever como "tímida".

Segundo, a timidez é uma característica que, com frequência, é mal vista socialmente e pode gerar comportamentos discriminatórios por parte dos outros em diversas ocasiões. E aí entra o ponto em que ela (a timidez) pode ser vista como uma "minoria". Ou seja, o preconceito e a discriminação associada à timidez em função de vivermos em uma sociedade extrovertida pode gerar processos de exclusão e até mesmo de opressão direcionados à essas pessoas. Um exemplo prático pode ser a escolha de uma pessoa extrovertida para uma vaga de emprego em detrimento de uma pessoa que tenha demonstrado timidez na entrevista (mesmo que a pessoa tímida seja mais qualificada para o cargo).

Embora possa haver um grande número de pessoas tímidas, a timidez se configuraria como uma minoria no sentido destacado acima: pessoas tímidas teriam menos oportunidades e menos possibilidades de ascensão social em função desta característica não ser valorizada em uma sociedade na qual o padrão extrovertido é fortemente idealizado.

Nesse sentido, o próprio tímido pode acabar tendo uma atitude discriminatória em relação a si mesmo (por exemplo, "eu não sirvo para nada, não consigo ser como os outros), gerando diversas consequências negativas para si mesmo, muitas vezes, procurando "corrigir" esse suposto defeito de personalidade por meio de uma terapia.

Assim como outros grupos sociais oprimidos pelo preconceito, os tímidos poderiam desenvolver movimentos conjuntos de conscientização e mudança de atitude no sentido de criar melhores condições de inclusão social. Isso beneficiaria não só os tímidos como a sociedade em geral.

Para finalizar, é importante destacar que esse texto é apenas um breve ensaio de um tema bastante complexo e inexplorado. Além disso, de forma alguma estou comparando o nível de preconceito/discriminação sofrido pelos diferentes grupos sociais, de modo que o objetivo foi apenas traçar uma possível relação entre o tema da timidez e das minorias identitárias.


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