Dentro do que se convencionou chamar de "terapia comportamental", existem inúmeras abordagens de tratamento que, inclusive, podem ser muito diferentes entre si. Neste artigo, abordarei uma destas abordagens: A terapia de aceitação de compromisso, ou, como também é conhecida, ACT (Acceptance and Commitment Therapy).
A ACT pode ser considerada um tipo de terapia comportamental contemporânea fundada no final dos anos 1980 que faz parte da terceira geração de terapias comportamentais, as chamadas terapias comportamentais contextuais. Tais terapias tem sido cada vez mais adotadas por clínicos comportamentais e cognitivo-comportamentais em todo o mundo.
Além disso, a ACT também é uma terapia fortemente apoiada por evidências de resultado para diversos problemas psicológicos, como dor crônica, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), depressão, transtornos de ansiedade, etc. Nesse sentido, ela pode ser considerada como parte do movimento atual da chamada "Psicologia baseada em evidência".
A ACT possui fortes bases científica e filosófica. É sustentada pela ciência comportamental contextual e tem sua base filosófica apoiada no contextualismo funcional ("ação no contexto").
Possui um modelo de psicopatologia próprio e robusto, que consiste na ideia de que o sofrimento humano deriva fortemente da linguagem, que cria processos de inflexibilidade psicológica. Por outro lado, a "saúde psicológica" ou o funcionamento saudável e adaptativo é obtido através da flexibilidade psicológica.
O modelo de flexibilidade psicológica consiste de 6 processos básicos que serão trabalhados em terapia e irão constituir a formulação do caso:
Consciência do momento presente
Self-como-contexto
Desfusão
Aceitação
Conexão com valores
Ação de compromisso
Não é objetivo deste artigo descrever todos estes processos. Voltaremos à eles em textos posteriores. A ideia básica deste modelo é que boas habilidades psicológicas nestes 6 processos resultam em saúde psicológica e funcionamento adaptativo e o foco da terapia é desenvolvê-los no/com o cliente.
Para a ACT, os principais processos que resultam em psicopatologia (qualquer uma) são a fusão cognitiva (ver o mundo através dos pensamentos e não olhar para os pensamentos apenas como pensamentos) e a esquiva experiencial (tentativas e evitar e/ou suprimir estados internos, como emoções, pensamentos, lembranças, etc).
A ACT entende que o problema não é ter pensamentos ou sentimentos negativos, mas sim a tentativa de controlá-los ou suprimi-los. Nesse sentido, o tratamento propõe que o cliente abra mão da "guerra interna" e se concentre em ações significativas que irão direcionar sua vida para o que é importante para ele.
Desta maneira, a ACT busca promover diversas habilidades fundamentais, como aprender a separar o "eu" da mente, abertura e curiosidade em relação aos estados internos, atenção flexível ao momento presente, identificação de valores e ações baseadas nesses valores, etc.
É uma terapia altamente "experiencial", ou seja, utiliza técnicas e estratégias que visam promover a vivência da experiência no aqui-agora e não entender racionalmente as técnicas ou intelectualizar o processo. Para isso, o terapeuta se utiliza bastante de estratégias como metáforas, exercícios de imaginação e contemplação do momento presente (mindfulness).
Para finalizar, é interessante mencionar que a ACT é uma terapia que, de certa forma, vai contra a cultura geral que nos leva a esquiva de qualquer tipo de sofrimento. Ela sustenta uma forma completamente inovadora de lidar com o sofrimento e que tem produzido resultados incríveis para os mais diversos problemas humanos. Em breve, voltaremos com mais textos sobre essa terapia!!
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Referência
Hayes, S. C., Strosahl, K. D., & Wilson, K. G. (2021). Terapia de aceitação e compromisso: O processo e prática da mudança consciente. 2a edição. Porto Alegre: Artmed.
Excelente introdução à ACT!