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  • Foto do escritorPedro Gouvêa

Transtorno de Ansiedade Social x Transtorno de Personalidade Evitativa: Existem diferenças reais?

Uma das discussões mais frequentes na literatura da ansiedade social envolve a diferença entre o transtorno de ansiedade social (TAS) e o transtorno de personalidade evitativa (TPE). Será que são transtornos realmente distintos? Quais aspectos poderiam diferenciar estes quadros? Quais são as implicações clínicas desta distinção em termos de avaliação e tratamento? Estas são algumas questões que este artigo pretende abordar.

Primeiramente, é importante observar que o TAS e o TPE pertencem a eixos diagnósticos diferentes no DSM. Ou seja, o TAS está localizado no eixo I - síndromes clínicas - e o TPE no eixo II - transtornos de personalidade. Pressupõe-se, a partir desta distinção inicial, que o TPE seria uma condição mais grave, pervasiva e resistente ao tratamento do que o TAS.

No entanto, essa distinção de eixos não me parece ser relevante do ponto de vista do diagnóstico e do tratamento destes transtornos, tamanha a semelhança da sintomatologia entre eles.

Por exemplo, o DSM destaca em sua definição do TAS que este transtorno apresenta como característica central um medo ou uma ansiedade acentuada de ser avaliado em situações sociais e que estas situações geralmente são evitadas, ao passo que o TPE é definido como um padrão de inibição social, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade a avaliação negativa.

Ora, os sintomas básicos destes transtornos envolvem um medo/preocupação com avaliação negativa e uma forte tendência a evitar as situações sociais em que tal avaliação possa ocorrer. Nesse sentido, são condições altamente sobrepostas e os critérios diagnósticos para ambos os quadros são extremamente semelhantes, tanto em sua topografia quanto na funcionalidade dos comportamentos.

O que parece distinguir realmente estes transtornos é a gravidade e/ou quantidade de sintomas de ansiedade social e não a natureza destes sintomas. A maioria dos estudos que aborda o tema defende que se trata mais de uma diferença quantitativa do que qualitativa. Por exemplo, o TPE envolveria um maior nível de evitação de relações íntimas, maior nível de preocupação com avaliação negativa, maior prejuízo funcional e maior nível de sofrimento geral. No entanto, a natureza dos medos tanto no TPE quanto no TAS seria a mesma.

É aí que entra o modelo do continuum da ansiedade social, que tem sido amplamente utilizado para compreender o fenômeno. Em um continuum de gravidade, o TPE representaria uma condição mais grave do que TAS. Ainda assim, a distinção entre o TPE e o subtipo generalizado do TAS parece não fazer muito sentido, uma vez que ambas as condições podem atingir níveis de gravidade muito semelhantes.

Alguns estudiosos chegam a afirmar que se tratam de transtornos equivalentes, que representam um mesmo problema clínico, porém, com nomes diferentes. Dada a grande sobreposição de critérios diagnósticos, compartilho da ideia de que seria desnecessária a utilização de duas terminologias para fenômenos clínicos tão semelhantes, ainda que exista, de fato, a necessidade de mais estudos que investiguem as possíveis diferenças qualitativas entre estas psicopatologias.

Por fim, ao lidar com um caso de ansiedade social, o terapeuta pode optar por utilizar o diagnóstico de TAS ou de TPE dependendo do nível de sofrimento e prejuízo funcional do seu cliente. O rótulo que se dá me parece irrelevante nestes casos. Além disso, sendo um caso de TAS ou de TPE, as intervenções terapêuticas também poderiam seguir a mesma linha, dada as semelhanças apontadas. Portanto, do ponto de vista do tratamento, o terapeuta pode lançar mão dos protocolos já validados para o TAS também para tratar casos de TPE. Vale ressaltar, novamente, a maior necessidade de pesquisas sobre a distinção entre estes quadros e as implicações teóricas e clínicas de se adotar um ou outro rótulo diagnóstico.



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Materiais consultados:


APA (2014). DSM-V: Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed.


Nardi, A. E. N. (2000). Transtorno de ansiedade social: Fobia social –A timidez patológica. Rio de Janeiro: Medsi.


Ralevski, E., Sanislow, C. A., Grilo, C. M., Skodol, A. E., Gunderson, J. G., Shea, M. T., Yen, S., Bender, D. S., Zanarini, M. C., & McGlashan, T. H. (2005). Avoidant personality disorder and social phobia: distinct enough to be separate disorders? Acta Psychitric Scand, 112, pp. 208-214.


Tillfors, M., Furmark, T., Ekselius, L., & Fredrikson, M. (2004). Social phobia and avoidant disorder: one spectrum disorder? Nord J Psychiatry, vol. 58, nº 2, pp. 147-152.


Van Velzen, C. J. M., Emmelkamp, P. M. G., & Scholing, A. (2000). Generalized social phopia versus avoidant personality disorder: diferences in psychopatology, personality traits, and social and ocupational functionating. Journal of Anxiety Disorders, vol. 14 (4), pp. 395-411.




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