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  • Foto do escritorPedro Gouvêa

Dimensões do contato visual


Nos últimos tempos, venho me dedicando a investigar com mais profundidade um aspecto particular do transtorno de ansiedade social (TAS): o contato visual, ou, mais especificamente, a dificuldade de contato visual.

O contato visual pode ser definido como a ato de olhar voluntariamente nos olhos de outra pessoa durante uma interação social. Embora possa parecer um comportamento simples e natural, a maioria das pessoas com TAS tem grande dificuldade em iniciar e manter um contato visual adequado.

Alguns estudos apontam que os seres humanos tendem naturalmente a olhar mais para a região ocular da face durante uma conversa, sugerindo que o contato visual é um comportamento inato. Ou seja, já nascemos sabendo fazer contato visual de forma natural e espontânea.

No entanto, também existem aspectos aprendidos no contato visual. Por exemplo, as pessoas com TAS aprendem facilmente a desviar o olhar quando percebem que estão sendo observadas. O temor do contato visual direto (popularmente chamado de "encarar o outro") é uma via de mão dupla para essas pessoas: elas se sentem desconfortáveis tanto quando são olhadas como quando precisam olhar nos olhos dos outros.

Com o objetivo de compreender um pouco melhor o padrão típico de contato visual de pessoas com TAS (tema raramente abordado de forma específica) e formular estratégias de treinamento para essa dificuldade, podemos mapear algumas dimensões importantes do contato visual.

As principais dimensões do contato visual que podem ser alvo de avaliação e intervenção terapêutica são as seguintes: 1) frequência; 2) duração; 3) intensidade; 4) função e; 5) topografia.

A frequência diz respeito a quantidade de vezes que a pessoa faz contato visual direto com seu interlocutor. A duração se refere a quantidade de tempo que a pessoa mantêm o olhar fixo nos olhos do seu interlocutor. A intensidade se refere a força com que a pessoa "imprime" o seu olhar na direção do olhar do outro. A função consiste dos efeitos que o contato visual direto produz no comportamento do outro e, por fim, a topografia consiste da forma com que a pessoa faz contato visual com o outro (por exemplo, olhar direto x desviado).

Todas estas dimensão são passíveis de mensuração e/ou avaliação clínica para fins de treinamento comportamental. Por exemplo, podemos identificar uma frequência de linha de base do contato visual de um fóbico social e utilizar estratégias específicas para aumentar tal frequência. Ou seja, se, na linha de base, a pessoa faz apenas 2 contatos visuais diretos em um período de 10 minutos, podemos tentar aumentar essa quantidade para 5 vezes pelo mesmo período utilizando o ensaio comportamental e a modelagem.

Como o contato visual é um comportamento extremamente importante para as interações sociais e constitui uma dificuldade central no TAS, é fundamental que os terapeutas (e clientes) comecem a prestar mais atenção e investigar melhor esse componente em seus processos terapêuticos com essa população.

A atenção do clínico para essa dificuldade pode ser um importante fator de resultado terapêutico positivo para o TAS, porém, nem sempre os terapeutas dão a ênfase necessária à ela.

Visando favorecer a melhora do quadro geral de TAS através do aumento do contato visual direto e redução do contato visual desviado, pretendo desenvolver, futuramente, ferramentas de avaliação e intervenção focadas exclusivamente nesta dificuldade. Acredito que aprender a fazer um contato visual satisfatório e mesmo prazeroso em uma situação social pode impactar muito positivamente os sintomas de ansiedade social!! Em breve, voltaremos a abordar esse assunto!!



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