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  • Foto do escritorPedro Gouvêa

Existências tímidas - Importam?


Recentemente, assisti a um evento acadêmico que abordava, de certa forma, questões raciais. Em dado momento, a palestrante utilizou a expressão "existências negras". Também recentemente, tivemos algumas campanhas de conscientização com a chamada "vidas negras importam?"

Bem, isso me fez pensar em um possível paralelo com indivíduos tímidos. Esse paralelo se sustenta no preconceito e na discriminação (muitas vezes velada) que estes indivíduos sofrem nos mais diversos espaços cotidianos, ou seja, no trabalho, na escola, na faculdade e até mesmo na família e com os amigos.

Estes comportamentos, muitas vezes, excludentes em relação aos tímidos, tem a ver com a cultura da extroversão em que vivemos. Em geral, indivíduos quietos, reservados e introvertidos não são bem vistos socialmente.

Notem bem. Não estou comparando o preconceito racial com o preconceito sofrido pelos tímidos, apenas traçando um paralelo e tentando gerar algumas reflexões a respeito.

Já abordei em texto anterior a questão se tímidos poderiam ser considerados como uma "minoria", no sentido de ser um grupo de pessoas que sofre processos de exclusão e preconceito social. Me parece que indivíduos tímidos sofrem destes mesmos processos que os grupos tradicionalmente considerados como "minorias" (negros, homossexuais, etc.), obviamente, com particularidades.

No entanto, não há um reconhecimento social dos tímidos como sendo um grupo minoritário ou constituindo uma pauta identitária. A mídia, por exemplo, não promove campanhas de conscientização sobre o tema (como acontece com outras condições, como as campanhas raciais, de gênero, do suicídio, câncer de mama, e assim por diante).

Além disso, me parece que o ponto que mais diferencia estes grupos minoritários tradicionais dos indivíduos tímidos é justamente a "falta de voz" que a timidez possui. Ironicamente, a timidez é extremamente tímida ao se posicionar socialmente e, consequentemente, não possui o reconhecimento que deveria ter. Ou seja, ela é pouco discutida nos mais diversos espaços sociais, como na mídia, universidades, espaços de trabalho, etc. O que temos são poucas iniciativas isoladas.

A conclusão (não definitiva) que tendo a chegar neste texto é que as "existências tímidas" importam sim, mas pouco. Pouco porque as iniciativas que temos para dar mais visibilidade ao problema ainda são muito tímidas (mais uma ironia) e as pessoas em geral tendem "a não ligar" para a timidez, pelo menos não no sentido de ser uma fonte de sofrimento importante.

A timidez pode se constituir em um grande problema para muitas pessoas e deve ser mais discutida nos espaços sociais. No entanto, ela é subvalorizada enquanto um problema de comportamento, sendo vista muitas vezes como um traço normal da personalidade ou, na pior das hipóteses, como "fraqueza de caráter". Lembrando que há uma dimensão normal da timidez, mas também há formas patológicas de timidez (conhecidas como fobia social).

No contexto maior da "visibilidade social" dos mais diversos grupos sociais, a timidez permanece sentadinha ali no canto da sala, isolada, com vergonha de aparecer...



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